terça-feira, 31 de julho de 2012

A outra face do abortamento

Chamam-me embrião, feto. Estranho como não se dirigem a mim como uma criança. É como se eu não fosse um ser humano. Talvez seja esta a razão pela qual, de forma tão arbitrária, tantos opinam e decidem a respeito da minha vida. Ou seria melhor dizer da minha morte?

Há quem apregoe que a mulher que me concebeu é dona do seu corpo e tem direito sobre a sua vida, incluindo-se nesse direito o de decidir se me deixará ou não viver.

Outros alegam que por ter sido concebido a partir de um ato de violência, não mereço viver. Bem estranha essa lei dos homens, pois no código de que se servem, não existe uma lei, um parágrafo, uma linha, um item que afirme que um inocente deva pagar pelo crime do culpado. E, contudo, dizem que o melhor para aquela que me carrega no ventre, é destruir-me.

Acaso ela poderá se sentir melhor após a prática do crime? O fato de a terem machucado tanto, magoado com tanta intensidade, justifica que eu seja sacrificado?

As dificuldades financeiras, a pouca idade de minha mãe, os estudos não completados do meu pai são outros tantos itens que são relacionados para justificarem a minha sentença de morte.

Por que alguém não me pergunta porque realizei essa opção? Porque me servi dessa oportunidade? Por que alguém não pensa no que eu estou sentindo? Por que optei por nascer?

Em mim tudo é esperança. Enquanto me agasalho nesse doce aconchego, embalando sonhos, outros planejam a minha morte.

Ninguém me pergunta o que eu gostaria. Enquanto teço venturas a imaginar o dia em que, pela primeira vez, acariciarei a face de minha mãe, planejam me exterminar.

Poderá alguém avaliar o quanto é terrível ouvir todas as possibilidades serem aventadas e descritas?

Quem sabe, injetar no útero materno uma solução salina? Ao ouvir isso, aterrorizo-me. Morrerei cauterizado.

O método de sucção, quem sabe? Tremo de pavor, só em imaginar aquele aspirador me sugando, me reduzindo a pedacinhos e me jogando para fora, para um balde, como se eu não passasse de um monte de sujeira.

E sou um ser humano. Grito, mas ninguém me escuta. O vozerio de fora é maior e abafa os meus sons, ainda tímidos. Afinal, sou tão pequeno ainda.

Agora discutem que talvez o método mais adequado seja o da curetagem. Meu Deus! Ser destroçado com uma lâmina, reduzido a pedaços no próprio ambiente que escolhi para viver: o útero de minha mãe. Por onde caminha a humanidade?

Por que não desejam que eu nasça? Sabem quem eu sou? Não, nem imaginam.

Recordo-me de um Nazareno que desceu ao vale dos homens para falar de amor e que disse "...que o espírito é como o vento. Sopra onde quer. Ninguém sabe de onde vem..."

Não sabem de onde venho. Ignoram até a minha presença física. Contudo, não sou um estranho. Recordo-me de outras existências, de outras experiências que realizamos juntos.

Como alguém que um dia me chamou amigo, me amou, pode me tratar assim? Será que o bater do meu pequeno coração não lhe diz que desejo acompanhar o compasso do seu coração?

Mãezinha, estou aqui. Pense em mim. Sinto tanto medo.

Oh, agora pretendem que o melhor será uma pequena cirurgia. Sim, retirar-me desse ninho para jogar-me sobre uma mesa fria e me deixar ali, aguardando a morte. Ou quem sabe, o que mais farão comigo?
Mãezinha, não deixe. Pense em mim como o seu filho querido. Você anda pelas praças e observa tantas crianças pulando, correndo.

Pense. Logo mais, eu poderei ser um deles. Correndo atrás da bola colorida, ensaiando os passos vacilantes, estendendo os braços para que você me ampare.

Confio tanto em você, mãezinha. Busquei você em tantos lugares, até encontrar. E agora que a encontro e que desejo voltar, você me nega o retorno?

Mãezinha, você sabe o que é um bebê? Sabe que eu sou um bebê? Estou interirinho, minúsculo, dentro de você. Logo mais, vou estar me espreguiçando, porque o espaço ficará menor e você dirá que estou chutando.

Ei, tive uma idéia! Por que você não tira umas fotos de mim, aqui dentro? Veja como eu sou. Veja como salto, me movimento, busco me acomodar. Isso mesmo. Faça uma ecografia.

Veja-me no vídeo. Olhe-me.

Sou tão pequeno! Tão indefeso! Dependo de você. Depois que você descobrir que estou aqui, inteirinho, esperando crescer para ir ao seu encontro, você não mais terá coragem de me matar.

Eu sou seu filho.

Maria Helena Marcon
VALORIZE A VIDA. DIGA NÃO AO ABORTO!

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