sábado, 7 de abril de 2012

SEARA DE ÓDIO


     "- Não! não te quero em meus braços! - dizia a jovem mãe, a quem a Lei do Senhor conferira a doce missão da maternidade, para o filho que lhe desabrochava do seio - não me furtarás a beleza! Significas trabalho, renunciação, sofrimento...
     - Mãe, deixa-me viver!... - suplicava-lhe a criancinha no santuário da consciência - estamos juntos! Dá-me a bênção do corpo! Devo lutar e regenerar-me. Sorverei contigo a taça de suor e lágrimas, procurando redimir-me... Completar-nos-emos. Dá-me arrimo, dar-te-ei alegria. Serei o rebento de teu amor, tanto quanto serás para mim a árvore de luz, em cujos ramos tecerei o meu ninho de paz e de esperança...
     - Não, não...
     - Não me abandones!
     - Expulsar-te-ei.
     - Piedade, mãe! Não vês que procedemos de longe, alma com alma, coração a coração?
     - Que importa o passado? Vejo em ti tão-somente o intruso, cuja presença não pedi.
     - Esqueces-te, mãe, de que Deus nos reúne? Não me cerres a porta!...
     - Sou mulher e sou livre. Sufocar-te-ei antes do berço...
     - Compadece-te de mim!...
     - Não posso. Sou mocidade e prazer, és perturbação e obstáculo.
     - Ajuda-me!
     - Auxiliar-te seria cortar em minha própria carne. Disputo a minha felicidade e a minha leveza feminil...
     - Mãe, ampara-me! Procuro o serviço de minha restauração...
     - Dia a dia, renova-se o diálogo sem palavras, até que, quando a criança tentava vir à luz, disse-lhe a mãezinha cega e infortunada, constrangendo-a a beber o fel da frustração:
     - Toma à sombra de onde vens! Morre! Morre!
     - Mãe, mãe! Não me mates! Protege-me! Deixa-me viver...
     - Nunca!
     - Socorre-me!
     - Não posso.
     Duramente repelido, caiu o pobre filho nas trevas a revolta e, no anseio desesperado de preservar o corpo tenro, agarrou-se ao coração dela, que destrambelhou, à maneira de um relógio desconsertado...
     Ambos, então, ao invés de continuarem na graça da vida, precipitaram-se no despenhadeiro da morte.
     Desprovidos do invólucro carnal, projetaram-se no Espaço, gritando acusações recíprocas.
    Achavam-se, porém, imanados um ao outro, pelas cadeias magnéticas de pesados compromissos, arrastando-se por muito tempo, detestando-se e recriminando-se mutuamente...
     A sementeira de crueldade atraíra a seara de ódio. E a seara de ódio lhes impunha nefasto desequilibrio.
     Anos e anos desdobraram-se, sombrios e inquietantes, para os dois, até que, um dia, caridoso Espírito de mulher recordou-se deles em preces de carinho e piedade, como a ofertar-lhes o próprio seio. Ambos responderam, famintos de consolo e renovação, aceitando o generoso abrigo...
     Envolvidos pela carícia maternal, repousaram enfim.
     Brando sono pacificou-lhes a mente dolorida.
     Todavia, quando despertaram de novo na Terra, traziam o estigma do clamoroso débito em que se haviam reunido, reaparecendo, entre os homens, como duas almas apaixonadas pela carne, disputando o mesmo vaso físico, no triste fenômeno de um corpo único, sustentando duas cabeças."
IRMÃO X
(Contos e Apólogos, psicografia de Francisco C. Xavier, cap. 11,9. Ed FEB.)
Nota da FEB: Decisão sobre aborto do Anencéfalo no STF
Consta da pauta do Supremo Tribunal Federal do dia 11 de abril a decisão sobre o processo que ali tramita que poderá liberar o aborto para casos de anencéfalos. Como, s.m.j., encontram-se esgotados outros recursos, sugere-se: a realização de preces/ vibrações; a ampla divulgado/circulação do artigo do ex-ministro Eros Grau “Pequena nota sobre o direito a viver” (anexado), publicado na revista da FEB (Reformador, setembro de 2011), e, quiçá, levado às mãos dos que têm alguma influência sobre o processo decisório. Acesso também pelo link do Portal da FEB:   http://www.febnet.org.br/site/noticias.php?CodNoticia=1085
 Compartilhe a notícia em sua rede social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário